Dizem os entendidos que aqui está o ponto mais ocidental da Europa continental, coordenadas de esperança para quem navega as costas da finisterrae.
Coisa pouca, admita-se. Camões preferiu dizer o mesmo por outras palavras e saiu-lhe um «onde a terra acaba e o mar começa».
Simples, belo e tão inquestionável como Latitude 38º 47´ Norte, Longitude 9º 30´ Oeste.
Afinal, talvez a única diferença entre as reflexões do poeta e o raciocínio do geógrafo esteja apenas e só na maneira de como cada um diz as mesmas coisas.
A paisagem entra pela alma e quase desperta o "desejo absurdo de sofrer" que experimentou um dia Cesário Verde nas ruas de Lisboa, ao anoitecer.
Será da vegetação rasteira devastada pela maresia, tentando sobreviver entre os penhascos de rocha crua?
Depois, passado o farol, é o confronto de peito aberto com o mar. Respira-se a custo, sente-se nas costas todo o peso do continente, enquanto os olhos se abrem para o convite do oceano.
É no Cabo da Roca que a expressão "jangada de pedra" ganha todo o seu significado, com a vantagem de cada um poder sentir-se timoneiro, comandante ou náufrago da embarcação.
Ou nostálgico do mar, que é símbolo de partida e da esperança de um eterno recomeço.
Certo, certo é que ninguém de lá sai como chegou e para franquear o portal mágico do Cabo da Roca não é preciso password.
Basta ir, fazer uma pausa nos fins-de-semana consagrados aos templos do consumismo e recuperar um pouco, nem que seja só um bocadinho, daquela ligação ancestral à terra, à natureza e a tudo o que sensibiliza e enobrece.